Sobre minha avó – Dia Mundial da Doença de Alzheimer

Dia 21 de setembro é Dia Mundial da Doença de Alzheimer. E para falar sobre esse assunto, eu vim contar uma história para vocês.

Minhas duas avós tiveram a Doença de Alzheimer. Mas vou contar da minha vó Olga, pois com ela que descobrimos como é uma maldição essa doença, e ela foi a primeira que teve. E ficamos perdidos por um bom tempo, sem saber o que era. Na época, as informações eram muito escassas e imprecisas. Minha vó Ana só foi ter alguns anos depois, mas já estávamos mais conscientes sobre o Alzheimer.

Eu tinha uns 12/13 anos quando minha vó começou a “esquecer as coisas”. Mas tudo bem, ela já estava pegando idade, é “normal”, não é? É normal deixar ferro ligado, fogão acesso… Mas não é! O primeiro susto veio quando minha vó saiu para passear e se perdeu para voltar para casa. O segundo susto foi quando ligaram para minha mãe falando que o andar inteiro do prédio estava com cheiro de gás de cozinha. Minha vó não podia mais morar sozinha.

Aos 15 anos, minha vó foi morar com a gente. Eu ficava brava com ela, ela cortava a barra das calças dela com faca de cozinha e ficava feio! Fiquei brava também quando ela deu bacon para minha cachorrinha que nunca tinha comido nada além de ração a vida toda. Ficava brava com ela, pois achava que ela estava mentindo quando dizia que não tinha pego/feito algo.

Quando mudamos de casa, eu tinha 16 anos, minha avó ficou na suíte quase em frente ao meu quarto. E novamente eu não entendia porque aquela senhora cismava em colocar o volume da televisão no mais alto possível em plenas 3 horas da manhã. Por volta dessa época, um médico soltou essa palavrinha estranha para a gente “Alzheimer” e falou que a gente tinha que ajudar ela forçando sua memória.

Minha mãe lia para ela quase todo dia. Também arranjamos agulhas grossas e tear grande, pois ela sempre gostou de bordar. Mas estava cada dia mais difícil, tínhamos que esconder todas as facas/tesouras da casa, para ela não destruir todas as roupas (em sua tentativa de fazer as barras). Ela ficava horas na janela, olhando em volta. Depois horas assistindo televisão. As vezes esquecia de comer, as vezes esquecia que tinha comido.

E então, ela começou a precisar de assistência 24hs. Só que uma enfermeira era muito caro, eu estudava e meus pais trabalhavam. Resolvemos procurar uma casa de repouso para ela. Quem sabe, com mais companhia ela se sentisse melhor. Além de enfermeiras 24hs por dia. E por um tempo foi bom, minha avó estava animada, íamos visitar ela quase toda semana! Então começaram as histórias que algumas pessoas haviam ido visitá-la… pessoas que já haviam falecido. Foi quando notamos que sua mente estava regredindo… começou a esquecer os nomes das netas e confundir das filhas.

Nós mudamos de cidade e com isso ela mudou de Casa de Repouso… e então aconteceu o terrível acidente: ela caiu da cama a noite e fraturou a bacia. Por incompetência médica, ela não foi tratada quando deveria… ficou anêmica, sem forças. Por fim, por tanto tempo sem mexer, a bacia cicatrizou errado… ela nunca mais pode andar! Foi terrível, foram as piores semanas que passei, com minha mãe desesperada, tentando ajudar minha vó. E no fim, nada foi feito… nada!

Ela voltou para a Casa de Repouso, começou a usar fraldas geriátricas e a fantasiar que ia passear quase toda semana com meu avô (que faleceu antes de eu nascer). E a gente parou de falar que aquilo não podia ser verdade, pelo contrário! Nós perguntávamos como havia sido o passeio e o que mais tinha feito. Ela foi emagrecendo e diminuindo. Até que um dia, ela não levantou.

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Minha vozinha, já tão magrinha… ♥♥♥

Receber a notícia por telefone acabou com minha mãe. Ela se sentiu uma péssima filha, como se tivéssemos falhado com minha avó. Só muito tempo depois que aceitamos que tudo que fizemos, foi para tentar o melhor para aquela senhorinha tão linda.

Desculpem o post longo, eu contei a minha história (chorando, como não poderia deixar de ser) para vocês entenderem como a Doença de Alzheimer é uma doença ingrata. Ele te toma mais do que a saúde, te toma as lembranças. É ridiculamente absurdo pensar que tudo o que você fez a vida toda, tudo o que cultivou, todos os sentimentos que teve… podem simplesmente ir desaparecendo!

Por isso, eu gostaria de homenagear minhas avós e te dar um conselho: aproveite! Aproveite seus avós, seus pais e todos que estiverem ao seu redor. Vamos tomar consciência que essa maldita doença não pode ser esquecida. E temos que nos manter firmes e continuar na luta constante para descobrir a causa e achar a curar.

“Declínio progressivo no funcionamento cognitivo da pessoa. Menos memória, menos capacidade intelectual, menos raciocínio, menos competências sociais, menos capacidade para reagir normalmente a emoções. Esta é a vida de quem sofre de Alzheimer. A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum, afetando entre 50% a 70% dos casos de demência a nível nacional.” (fonte: Notícias ao Minuto)

21/09 – Dia Mundial da Doença de Alzheimer. Não deixe que seja esquecido

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Vó Olga ♥
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Vó Ana ♥
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