Entrevista com Amyr Klink e suas lições com a água

Tive a honra e o prazer de conhecer e entrevistar o navegador, escritor, economista, administrador e inventor Amyr Klink. Ele fez uma palestra no Teatro Iguatemi Campinas falando sobre o consumo inteligente da água.

Linha D’Agua – o desafio do consumo, é um projeto cultural no qual Amyr Klink ajuda no conhecimento. Afinal, depois de passar mais de 100 dias no oceano, tendo que sobreviver com apenas 2,7 litros de água por dia, ele nota o desperdício crescente no Brasil. O Projeto começou como uma iniciativa para escolas, e foi se ampliando nessa exposição itinerante.

Em um bate-papo descontraído, conversamos sobre desperdício, projeções para o Brasil e muito mais! Confira:

Helga Takeno: Sobre  exposição?
Amyr Klik: A exposição foi uma idéia que surgiu com a Decolor e com a minha mulher mais para uma demanda de uma escola. Para falar sobre o uso eficiênte da água. E ela foi tão bem feita que foi se multiplicando e esta há alguns anos em suas edições. Na de Campinas, conseguimos disponibilizar o meu barquinho e todo o formato foi bem didático.

HT: E essa questão da água no Brasil? Estamos avançando?
AK: A água é um exemplo do que a gente desperdiça. A gente desperdiça água, energia, capital humano, comida, intelecto e ai quando a gente se defronta com um problema como a corrupção, notamos que tudo isso é um reflexo da situação que devemos consertar. Não devemos mais admitir que o país funcione da maneira como ele está. Com esse grau enorme de desperdício. O Brasil virou um país violento. Eu estava no Líbano, e é mais seguro andar em Beirute as 3 horas da manhã do que no Rio de Janeiro ao meio-dia. O brasileiro não sabe dirigir, matamos mais de 50 mil no trânsito! É uma chacina.
O Brasil é o país dos extremos. Temos pessoas brilhantes, mas também temos escolas medíocres.

HT: Você acredita que é por isso que a demanda de pessoas brilhantes saem do país?
AK: Esse é um assunto trágico o que acontece hoje. A gente chegou em um nível tão grande de incongruências sobre o respeito a vida humana, que a gente esta passando por um processo terrível e estamos perdendo muitos indivíduos brilhantes e grandes empresários. Esse fenômeno esta acontecendo e eu acho covarde os caras de alto nível que vão embora do país. Eu não quero ir embora do Brasil. Mas nós ainda não chegamos ao fundo do poço.
A Colombia por exemplo, passou por um processo mais profundo e dramático. E esta revertendo agora. O exemplo da Colombia mostra que todo investimento que se coloca na educação só vai voltar 17 anos para o ciclo começar a fazer efeito. A Coreia do Sul mostrou exatamente o mesmo número, 17 anos para o investimento na educação começar a voltar.

HT: Você cria algumas coisas para consumo, pensando no desperdício, você aplica tudo no Brasil?
AK: Eu tento resolver o meu negócio. Eu to cansado de discurso, eu quero a ideia saindo do papel. O que você faz? O que você pode me mostrar do que você faz que funciona? A gente foi aprendendo a colocar soluções na prática. A gente faz uma torneira que é melhor do que eu compro de qualquer marca. Porque se você usa as mãos para ligar e desligar, ja houve um desperdício de água aí. Porque o controle não pode ser no pé? É mais eficiente. Pode não ser esteticamente o mais belo, porém é o mais prático com menor desperdício.
Mas o que eu descobri recentemente é que a reciclagem é uma correção criminosa de um erro que a gente insiste em fazer. É como se a gente saísse matando, e depois fosse na Igreja, no padre e rezasse para “ser absolvido”. Porque a gente não parte para uma ideia de uma economia circular onde há menos desperdício?

HT: E o que você citou da água vale para tudo, né.
AK: Sim, alimentação, economia, capital humano. Hoje a gente vive uma espécie de pseudo-fartura. Onde todo mundo tem orgulho de ter um bom serviço, incrível como as pessoas exigem ser bem servidas. Eu quero usufruir de serviços mas sem impor pra ninguém que façam para mim o que eu posso fazer. Nos veleiros a gente vê justamente ao contrário, a gente curte ser dono da própria casa. Eu não quero gastar meu intelecto para cuidar de carro, trocar óleo, polir a pintura, Deus me livre! Que miséria é essa!

Gente, esse é só um trecho da conversa. Falamos muito mais, sobre a “não-moda”, ele questionou do porque ter 4 coleções novas por ano, sendo que uma boa camisa pode durar 5 anos?! Não faz sentido. Porque os designers não pensam na utilidade em vez da estética? Enfim, o cara é genial! Eu amei demais e apliei horizontes. Além de tudo, ele é uma simpatia de pessoa! Muito inteligente e humilde.

Leiam os livros dele, que vale a pena. Conheçam suas ideias, e tenham mais consciencia do mundo que vivem. Com certeza, vale a pena ♥

A recomendação da Organização Mundial da Saúde é que cada pessoa gaste, somando suas atividades domésticas e de higiene, de 50 a 100 litros diários de água. É muito? Pouco? Quantos litros de água você gasta por dia? Seria possível viver consumindo menos de três litros por dia? Amyr Klink garante que sim. Há mais de 30 anos, ele passou 100 dias num barco a remo com um consumo diário de 2,7 litros de água. A viagem foi a primeira travessia a remo do Oceano Atlântico e até hoje o navegador brasileiro é o único homem do mundo que conseguiu completar esta façanha. A experiência deu origem ao best seller ‘Cem dias entre céu e mar’, que ficou por 31 semanas consecutivas na lista dos dez livros mais vendidos de não-ficção no Brasil.

Posted Under Sem categoria

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *