Os cabelos curtos para homens já foi obrigatório. Para mulheres, um escândalo. Hoje, é apenas mais uma forma de oprimir a expressão de cada individuo.
A primeira vez que eu cortei meus cabelos curtos, eu tinha uns 12 anos de idade. A primeira coisa que ouvi do cabeleireiro foi: “agora nunca mais esqueça de usar brinco, para não te confundirem com menino”. Ou seja, já ficou bem nítido que cabelos curtos eram “coisas de meninos” e a única diferenciação seria o brinco.
Claro que com 12 anos eu não entendia o tanto que essa frase foi machista. Inclusive isso ficou tão arraigado por tanto tempo em mim, que eu passei por orelhas inflamadas durante minha adolescência toda, só para “não ficar sem brinco”. Foi necessário médico me proibir de usar brinco, para eu finalmente acreditar que toda a dor, sangue e vermelhidão eram algo ruim. Mas parei por ai?! Claro que não! Foi ai que comecei a usar (com aço cirúrgico, claro, para não inflamar) o segundo e o terceiro furo. Pronto, estava “salva” de ser confundida.
Alias, cabe aqui uma atualização feita 4 anos depois do texto original: e qual o problema de ser confundida? Eu sou menos “eu” se me chamam de “a” ou “o”? Para pensar…
Como se não bastasse, junto com um preconceito, sempre vem outro na cola: depois dos 16 anos, o que mais ouvi foi “ah, como você é gorda, combina mais cabelo comprido”. Quem inventou essa regra para cabelos curtos?! Porque o meu biotipo físico esta atrelado ao meu cabelo?
Mulheres padrão (magras, altas e loiras), se tiverem cabelo curto são atreladas a uma certa rebeldia. Nota-se em filmes, mulheres que tem cabelo curto em geral são guerreiras, rebeldes (fugiram de casa, da sociedadem, vivem uma vida fora da tradicional). Já as mulheres padrão de cabelos compridos, dão ditas como sexys e femininas (?). Ou seja, o cabelo da mulher, assim como seu corpo, esta sempre atrelado ao desejo do homem (machismo).
Quando eu tinha uns 17 anos, sucumbi a pressão e resolvi deixar o cabelo crescer. Foram anos de incômodo, calor e briga contra minha própria imagem, só para tentar agradar a todos. E quando eu cortei curto de novo, 90% das pessoas opinavam (sem eu pedir, óbvio) que me preferem de cabelo comprido.
As falas mais comuns são:
“Mulheres de cabelos compridos são mais sexys/femininas”
“Mulheres de cabelos curtos são meio masculinas”
Mas ai a gente vai crescendo, e vai notando que a última coisa que pensam é o que EU acho. Quase ninguém me perguntou se eu gostei ou me senti bem antes de expressar uma opinião, em geral negativa.
E é assim a vida toda. E porque isso é uma mentira velada?
Pois eu vejo muitos casos de “minha namorada/esposa pode fazer o que quiser”. Ai quando a mesma vem falar que quer cortar o cabelo, o homem fala “não, de jeito nenhum!”. É algo tão recorrente isso.
Ouço “nossa, você é linda e empoderada trabalhando como modelo plus size”. Mas já perdi muitos trabalhos por ter cabelo curto. Vamos a prova: Coloca no Google Imagens “modelo plus size”. Você não encontra nenhuma de cabelo curto.
Sempre existe um mas.
Você pode ser mulher militante, desde que siga os padrões imposto pelos homens
Você pode ser gorda empoderada, desde que mantenha o “aceitável” para ser uma mulher.
Pois é, essa é a vida de quem tem cabelos curtos. Essa é a vida de quem é gorda. Essa é a vida de quem é mulher.
Um constante e contínuo ataque de achismos, que só servem para continuar sabotando a auto-imagem feminina. Mas ei, parabéns moça, você é empoderada.